domingo, 21 de setembro de 2014

Cenas de gaja #9

Uma pessoa é chamada a brilhar e quer fazer bonito, botar faladura como vê os grandes fazer, vestir as palavras a rigor, calçar-lhes mesmo uns saltos altos porque a ocasião assim o pede, esgrimir argumentos, esclarecer pontos de vista, dirimir más interpretações, extinguir qualquer suspeita de mágoa ou melindre (lágrimas? uma gaja não chora pá!), mas não pode; não consegue.

Ele é Querida Mãezinha que solicita assistência porque o micro-ondas faz faíscas e acha que é melhor eu ir lá ver o que se passa (Mãezinha do meu coração eu disse que era para limpar o micro-ondas com uma esponja húmida, HÚMIDA, não encharcada!), ele é a sogra que telefona e conta tooooooooooodas as pequenas coisas do seu dia (relatando mesmo em pormenor os diálogos que teve "ele disse-me: ó Dona F, então…" e eu respondi-lhe: "Ó senhor A., você não me diga uma coisa dessas!" e ele vai e diz-me", já deu para perceber não já?), ele é a senhora da Nos que telefona para oferecer uma promoção...

É que senta uma gaja o rabiosque na secretária e alguém pergunta "O que é o almoço? ou "O que é o jantar?" ou ainda "Ó mãe, as minhas ligaduras do boxe já estão lavadas?"

E uma gaja que se irrita com tanta interrupção, agarra na bicha cadela e vai passeá-la ao jardim.

Nunca serei uma Isabel Allende...

9 comentários:

  1. Às vezes os cães dão muuuuiiitttooo jeito! Se quiseres vir até ao Parque das Nações hoje há Meo Out Jazz e podes trazer a cadela! E um guarda-chuva! Bjos

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  2. Ser mulher é duro. Temos de auxiliar todos!

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  3. Ser "gaja" é assim mesmo... o Criador devia mandar-nos com um manual de tarefas a cumprir!!! Sem ele não há "gaja" que dê conta do recado!!!! Bom Domingo, ou daquilo que resta dele!

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  4. O "gajo" já se retratou e até não se saiu nada mal na "pelingrafia", convenhamos.
    Talvez o acostumar a olhar a vida com algum desdém, nos leve a desconsiderar a parte depreciativa que as palavras se atribui, muitas vezes porque se lhes relaciona o zumbido com uma ferroadela antiga... do tempo em que a padralhada insistia naquela coisa do pecado.

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    1. Queira desculpar-me o meu caro Bartolomeu mas a meus olhos ficou ainda a fotografia um tanto ou quanto tremida (sendo que lhe vejo agora melhor o retrato do que qualquer outra vez antes)

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  5. Se me permite (penso que permitirá) recorro à "parábola" do velho e do doutor; sendo que, tanto o velho como o doutor servem somente para enfeitar o argumento: no largo da aldeia, o velho, analfabeto, encontra o neto acabado de chegar de Coimbra. Vinha visitar a família e festejar o doutoramento. Era de noite, o céu resplandecia com o brilho das estrelas e o disco prateado da lua. O velho, olhando o neto nos olhos e adivinhando-lhe o inchaço do ego, coloca-lhe de surpresa a pergunta: o que é maior, a lua ou uma estrela? O gajo ri-se descaradamente e responde: então o avô não sabe que a lua é maior?! O velho permaneceu em silêncio alguns momentos e voltou a questionar; peço-te, olha novamente, com mais atenção e confirma a certeza da tua resposta. Completamente enfunado e impaciente, sem olhar sequer o céu, o neto reafirma a grandeza da lua. Novamente após um silêncio de alguns momentos, o avô retruque: enganas-te filho. A Lua parece-te maior que as estrelas porque a estás a ver mais perto de ti.

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    1. Só mesmo por isso alguns "grandes" parecerão maiores.
      ;)

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    2. O sentido da visão, é de certo o mais anacrónico e exógeno, dos 5 que possuímos; ou dos 6, no casos de transcendência. Gajas? Não, não referi gajas, juro! :)

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