domingo, 11 de março de 2012

A menina do seu pai

Como areia numa mão a vida vai fugindo por entre os dedos; desde o momento em que nascemos que nos preparamos para morrer; disto não podemos fugir.
Impotentes, vemos o tempo esgotar-se;
94 anos não chega a ser o tempo de uma piscadela de olhos da Dona Eternidade.
Foi tão pouco tempo; agora que podia finalmente aplicar o que se aprendeu neste tempo e ser melhor o físico trai-nos e ameaça falhar; de que serviu então esta passagem? Este tempo doloroso de aprendizado? Para que serviu tanto choro, tanta dor, tanto desgosto, e também sejamos justos, tanta alegria?
Qual o propósito?
Os tubos que são as veias entopem e não há coca-cola ou ácido muriático que as limpe. E eu nada posso fazer.
E nem tu, pai.
E agora?
O tempo esgota-se e eu não quero. Não quero pai, não quero.
Quero continuar a ouvir-te a falar do Km 75 e de todos os Kms da tua vida, quero continuar a rir com as tuas piadas, quero ver-te com o teu neto, quero ver-vos os olhos a olhar um para o outro, quero que te orgulhes de mim, quero até ter de ralhar contigo, desde que não te vás embora pai; não vás

Sem comentários:

Enviar um comentário