domingo, 16 de setembro de 2012

A ver se me consigo explicar...


Este é um post dificil, várias vezes o comecei e várias vezes o suspendi e apaguei, por não saber por onde começar e por não querer ser mal entendida.
Entenda-se que não pretendo doutrinar, ou propangadear, a minha pretensão é apenas e só, a de partilhar o que vou vendo e compreendendo.
Temos noção, no Ocidente, que a Abaya e a Burqa são apenas panos pretos que as mulheres são obrigadas a usar, e que têm como finalidade, esconder a mulher.
Presumia eu que, coitadas, eram obrigadas a usar a coisa e não tugiam nem mugiam.
Primeiro erro: 
As Abayas e as Burqas não são meros panos pretos.
São feitas de belissimas sedas, têm bordados maravilhosos, mas voltarei a este tema num outro post para vos mostrar algumas (estou viciada nelas).
Segundo erro: 
Elas não são obrigadas a usar; usam porque faz parte da sua religião (e isto é como os rabos, cada um tem o seu, e todos temos um), porque é tradicional (se eu decidisse vestir-me de noiva minhota todo o ano ninguém tinha nada a ver com isso; podia parecer estranho porque não é comum, mas seria a minha vontade) e porque gostam mesmo de o fazer! Só um pequeno fait divers: há uns dias encontrámos no supermercado um colega saudita do Mais Que Tudo com a familia; a mulher deste colega proibiu-o de me cumprimentar porque eu tinha a cara descoberta!
Terceiro erro:
Não servem para esconder mas para proteger; a família é o mais importante e aqui, como aí, há gente que nada respeita, por isso há que abrigar de olhares alheios o bem mais importante, que é a mãe dos filhos (nascidos ou por nascer).
Pode ser exagerado, talvez seja para nós, mas mais uma vez, o que se disse acima sobre as religiões também se aplica às opiniões!
Nada tem a ver com o que imaginava e me transmitiram acerca da mulher ser um ser inferior ou impuro; bem pelo contrário!
Poderão usar a cara descoberta ou tapada; o cabelo, tido como uma das mais belas coisas numa mulher, deve ser usado apanhado e coberto por um véu. Apenas em casa deverá estar solto ou descoberto para não provocar tentações (com o calor que aqui faz nem me passaria pela cabeça soltá-lo, mas não preciso  de o usar coberto uma vez que não professo a mesma religião).
Por último resta dizer, que por debaixo da Abaya ou da Burqa se escondem trajes magnificos, mas esses só são vistos em casa ou entre mulheres (são vaidosas como pavões)!
Tal como eu, só quando aqui vierem compreenderão e poderão botar faladura.
Até lá, não sabemos do que falamos.
Ps- Deixem-me só ir pôr um fatinho acolchoado que já sei que vou levar porrada...

30 comentários:

  1. A Arábia Saudita é radical em relação à sua cultura, mas não é governada por talibãs !! Eu entendo as questões culturais. Dou um exemplo :Em algumas regiões da Nigéria, as mulheres fazem escarificações no corpo, marcas feitas com cortes na pele que representam fases importantes em suas vidas. Quando cicatrizam, os cortes ficam parecidos com uma renda. Como elas não usam roupas, as cicatrizes também são estéticas e símbolo de beleza.
    As marcas começam a serem feitas a partir dos 5 anos de idade, em partes específicas do corpo, obedecendo uma sequência. As jovens só são consideradas adultas e aptas para o casamento quando toda a sequência de desenhos estiverem completas."
    E tem lojas online com abayas de nos babarmos completamente... eu sei, porque gosto !

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    1. Como sempre Maria, OBRIGADA pela tua clarividência, abertura e infindável cultura geral!
      Que privilégio ter-te aqui!
      :D

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  2. Que belíssimo post. Eu própria já preparei por diversas vezes um com conteúdo semelhante, mas faltou-me a pachorra e a coragem, porque não faltam mentes dogmáticas por essa blogosfera fora prontas a apedrejar quem diga que há mulheres muçulmanas que usam véu, abaya, nikab ou burqa por tradição e por opção. É o politicamente correcto (e paradoxalmente, pouco tolerante) pensamento oficial de " coitadinhas das muçulmanas que não pensam". Não são capazes de se por no lugar de outra cultura, com paradigmas diferentes. Finalmente alguém que de facto lá está para falar com direito. E sim, as abayas são lindas (e justinhas!). Tenho pena de não ter nenhuma, mas punjabs e outros trajes orientais bordados (que nesta estação se vão transformar em vestidos, na senda dos barrocos) não faltam. :)

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  3. Adorei o post! Super esclarecedor!

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  4. Pois é, mas porque é que se querem evitar os olhares e desejos alheios, S? Falta de confiança nas mulheres? Não. A Arabia Saudita é um país de duas faces: a que se relaciona (em tese) muito bem com os EUA e o que apoiava Bin Laden e todo o radicalismo islâmico.
    Acredito que a mulher do colega do teu MQT o tivesse proibido de te cumprimentar. Que eu saiba, há bombistas suicídas masculins e femininos.
    A questão do véu, é um pormenor dentro do radicalismo que impera e dos menos importantes. Certo, é que as mulheres são reduzidas a pouco mais que nada: não escolhem os maridos, não se podem opor a que eles tenham outras, enquanto que elas se arranjarem um amante, podem ser condenadas à morte. Em muitos países árabes, a mulher sofre a terrível ablação clitoriana, para que não possam sentir prazer durante o acto sexual..
    E tudo isto, nem é preciso lá irmos para saber, e é muito mais importante que burkas e véus, e coisas do género.

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    1. Vic, é exactamente para este tipo de troca que existem as caixas de comentários, mas do que aqui se falava era de abayas, burqas e coisas do género.
      Este não é um post sobre gente louca, radicais, politica, ou mutilação (em África também acontece, sabes). You´re missing the point.
      Deixa-me ainda que te diga: nem uns nem outros escolhem com quem casam. os casamentos são arranjados pelas familias.

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    2. Concordo com o Vic, mas também devo dizer uma coisa: nós, no Ocidente, também chegámos ao extremo. Anda-se a mostrar o nalguedo todo durante o Verão; são fotos em biquini no facebook... Não sou nenhuma púdica, mas são coisas que me causam uma certa impressão, embora cada um seja livre de usar o que quer. Aqui as mulheres desejam e esfolam-se por chamar o macho de todas as maneiras.
      Mas, lá está, cada um sabe de si.

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    3. entendo o raciocínio inerente, entendo a diferenças culturais, entendo tudo isso porque faz sentido (e sobretudo faz sentido que depois de tantos anos de imposição cultural e social só possa fazer sentido), mas faz sentido do ponto de vista masculino ter imposto estas regras e é isso que é importante referir.
      Respeito, mas não concordo, porque as regras foram feitas por homens com intenções que não são mais do que controlar as mulheres para impedir infidelidade (que é o maior ultraje que eles podem sofrer)...a mutilação feminina surge pela mesmo intenção, etc.
      Noutro plano: porque é que a igreja postólica romana não deixa que os homens se casem? para que os bens fiquem no seio do clero, sem casamentos, as heranças materiais ficam na igreja e não são distribuidas, tem a ver com poder e nada mais.
      Dito isto, volto a dizer, respeito e entendo, mas nunca poderei concordar com uma cultura que não é igualitária.
      Mas em Roma sè romano, e se fosse para aí tudo faria para me integrar e para respeitar os usos e costumes do país.

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    4. Isso Xuxi, não se trata de concordar, mas compreender e respeitar.
      E em tudo o resto que disseste, tens toda a razão.
      É sempre e só, uma questão de poder, seja em que religião for!

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  5. Se queres que te diga, já preferia andar assim tapada também. Os homens parece que andam cada vez mais babões ou então mostram-no mais! Mesmo grávida ou agora com o pequeno, não o deixam de fazer.
    E depois os tecidos são tão lindos! Há uns tempos, vi um documentário que mostrava as tardes das senhoras daí, onde tomavam o seu chá e conversavam, umas grandes malucas! Depois iam às compras e as lojas dos tecidos eram um mundo.

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    1. Bem me lembro da humilhação que sentia quando estava grávida e os homens nem por isso deixavam de me olhar e lançar piropos.
      Ao contrário do que fiz toda a vida (pô-los no seu devido lugar), envergonhava-me e retornava a casa de lágrimas nos olhos! Antes a abaya!

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    2. Por vezes dá vontade. E eu não sou mulher de andar descascada por aí.

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  6. Desculpa a pergunta: vives na Arabia?
    eu entendo que para uma mulher do ocidente viver numa pais onde as regras de sociedade sao tao distintas das nossa deve ser complicado , mas tb sei que é tudo uma questao de hábito e de amor acima de tudo
    kis :=)

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  7. O que disseste agora já eu tinha conhecimento - aliás, até tive o prazer de ver de perto burqas lindissimas e abayas que me deixaram de boca aberta. Ainda assim, continuo a dizer que não gosto das tradições que aí se practicam, e como tal não vou a países onde sejam práctica comum. Por respeito a quem professa essa religião e essas tradições, fico no meu canto e não me intrometo nos modos de vida dos outros. Tambem nunca me verão em Cuba, nem na Venezuela. Cada um sabe de si e vive como quer, lá está, e os outros só têm é de respeitar. Por respeito prefiro nem pôr aí os pés ;)
    http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.com

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  8. Palavra que pensei que com o calor que ai se faz sentir que as mulheres usavam a burça por cima do corpo só com a lingerie e nada mais. Essa de trazerem roupa lindíssma por baixo, afinal serve para quê?

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  9. Posso respeitar, mas não concordo de todo!
    Por causa de uma coisinha assim pequenina mas que para mim tem muita importância, chamada liberdade. A liberdade de vestir como bem se entende, de decidir ser ou não fiel, de decidir casar com este em vez daquele. Nunca poderei concordar com qualquer país ou cultura que não pratique o valor mais essencial de todos.

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  10. são culturas diferentes e há que compreender e não criticar! Sim já sabia que elas se cuida muito, adoram maquilhagens, bijuterias!

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  11. Adorei este post. A sério que sim. Já cirandei por uns quantos países árabes e realmente o mundo ocidental pinta a coisa dum modo muito mais negro (e opressivo!) do que realmente é! E chamá-las de vaidosas é pouco, são umas verdadeiras peruas à procura do bling bling mais bonito :)
    E odeio quem não respeita as outras culturas/religiões. Eu adoro conhecê-las e tentar entendê-las antes de lançar qualquer pedra ou tecer qualquer comentário infeliz. Já a maioria da população é retardada e cinge-se ao "eu vi na televisão e é assim porque a TVI é a verdade universal".

    Continua com estes posts sobre a Arábia Saudita, delicio-me toda!:)

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  12. ESpera, nao percebi uma coisa que disseste (sorry tratar-te por tu, mas enfim...)aí é terça feira? OH DIACHO! fIQUEI BARALHADA!

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  13. Não, não concordo, mas se elas é que querem, quem somos nós para criticar?

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  14. A mim sempre me fez alguma confusão mas, a verdade, é que só me deparei com o traje completo pela Europa. Situação em que a coisa fica mais deslocada e difícil de compreender. Acredito que nos países de origem, em que "é mesmo assim" e todas se vestem da mesma forma, seja mais fácil de "aceitar". Por cá, há 50 anos atrás, nas aldeias, as senhoras também andavam todas de lenço na cabeça... e ninguém as obrigava... :)

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  15. Está aqui pano para mangas.
    Da minha parte afirmo que sabia que era parte da religião islâmica. Depois vem a tolerância religiosa e social da "coisa".
    Estou a lembrar-me de algum tempo atrás o Sarkozy ter querido proibir o uso do véu (penso que era nas escolas), e de a comunidade islâmica Francesa ter sido contra.

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  16. Só estando por dentro das culturas é que conseguimos perceber se é radicalismo ou vontade própria. À partida a tolerância devia chegar, mas já sabemos que não é o nosso forte. Obrigada pelo esclarecimento, Dorothy.

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  17. Por mim, não levas porrada coisíssima nenhuma. Não conheço a cultura, nem as vontades das senhoras por aí, por isso, não posso opinar mesmo. Mas, pelo que tu dizes, a coisa não é tão má como parece de fora. E ainda bem :)

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  18. Gostei mesmo mesmo muito deste post, realmente só percebemos melhor as coisas quando as vivemos ou neste caso, vestimos! :P

    Continua a trazer-nos a tua perspectiva tão descomplicada dessa parte do mundo que tão mal conheço.

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