segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Clube Dallas

Fui vê-lo este fim-de-semana e está a custar-me a digerir.
1985, não sabiamos nada da SIDA.
Apanhou-nos de surpresa e tudo o que íamos sabendo é que estava lá longe e era uma doença de homossexuais e drogados.
As festas sucediam-se, as inaugurações de espaços nocturnos também (o Plateau reinventado, o mega Alcântara-Mar com passagem para o Alcântara-Café, etc), eram lançadas revistas de moda (Marie-Claire, Elle, Máxima), o Bairro Alto estava ao rubro (o Frágil, o Souk, o Trump's e o Finalmente),  e nós, em todas; ouvia-se Easy LoverI Feel For YouLover Boy, Lover GirlThe Heat Is OnRhythm Of The NightFreeway Of LoveSome Like It HotI’m On FirePrivate DancerFreedom… e dançávamos, dançávamos!
1991 em Londres morre Freddy Mercury e em Portugal 1992 morre o João Carlos com quem tantas vezes partilhei a passerelle…
Continuávamos sem saber nada acerca da SIDA, mas de repente ela deixou de estar lá longe e passou a viver no meio de nós.
Não eram grupos isolados os que contraiam o vírus; qualquer um de nós podia ser apanhado; qualquer um de nós podia ficar doente.
O medo, a desconfiança, o preconceito estavam instalados.
Nunca mais deixaram de estar.
2014, sabemos ainda muito pouco, e do pouco que sabemos lembramo-nos pouco no dia-a-dia.

6 comentários:

  1. Eu já vi o filme a ADOREI!

    Eu conheço bem o tema, por razões pessoais e profissionais, mas se por um lado, hoje, a doença já não é uma sentença de morte, por outro lado ainda existe o estigma.

    O João Carlos... O meu meio era outro (a dança) mas cruzava-me muitas vezes com gente da moda - o Tó Romano, o Ricardo Carriço, o Nilo... - e lembro-me perfeitamente do choque da morte do João Carlos. Aliás, a morte dele impulsionou a Margarida Martins (velhos tempos do Frágil...) a criar a Abraço.

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    1. E às tantas cruzámo-nos também :)
      Sim, o João confidenciou à Margarida que não se sentia bem e foi aí que tudo se descobriu; a Margarida acompanhou-o até ao fim e fundou a Abraço por causa dele.

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  2. Tenho um amigo enfermeiro que me diz que, hoje em dia, a Sida é bem conhecida e bastante controlada. Que, felizmente, já é possível sobreviver e viver bem. E que, curiosamente, a percentagem de probabilidade de um homem passar à sua mulher, é bastante reduzida.

    Um grande flagelo. Doença terrível, especialmente no seu início...

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  3. eu conheço esses sítios de ouvir falar, em 1988 passei uns meses no hospital Curry Cabral e tinha uma "amiga" lá a Gabi que me falava desses meios, nunca mais soube dela, tenho tanta pena de perdermos assim o rasto às pessoas. Um dia destes faço um post sobre isto. Desculpa mas de certa forma o teu post fez-me recuar uns anitos :))) beijinhos e boa semaninha!!!

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  4. Lembro-me tão bem do João Carlos e da pena que tive - no auge da minha infantilidade de teenager - de não ter chegado a vê-lo desfilar ao vivo. Também me lembro tão bem dos meus anónimos do Incógnito, os que se foram na flor da idade, os que duraram mais uns anos, o Vitó, a Martinha, o Carlos, o André e o Luís. Foi doença que me tirou gente a qual marcou a minha vida só de formas positivas. Mas também me ajudou a ser muito cautelosa e cuidadosa com certas coisas, essa é que é essa.

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