sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um ano

Lembro-me ainda de tudo; dos teus olhos azuis e dos segredos que guardávamos, do teu sorriso malandro e das tuas gargalhadas quando querias contar uma piada mas lhe achavas tanta, tanta graça que nem conseguias falar e só rias, rias, rias; lembro-me tão bem daquilo que mais medo tinha de esquecer; a tua voz.
Lembro-me dos teus gestos; de como passavas a mão pelo cabelo assegurando-te de que estavas composto, do som que faziam as tuas mãos quando as passavas na barba rija, já crescida, à noitinha, do teu andar muito direito com os olhos lançados lá longe, do crepitar do cigarro aspirado numa passa nocturna, no escuro do corredor - eu via o clarão do cigarro da porta aberta do meu quarto; lembro-me dos fins de tarde na praia, em correrias e mergulhos sem fim, pinos feitos dentro de água, ondas furadas e o regresso a casa ao teu colo…lembro-me das madrugadas caminhando no campo ao teu lado, de mão dada, com a neblina ainda baixa - são nuvens que vieram dormir na erva -, sestas ao som das cigarras em enormes cobertores estendidos no chão…
Lembro-me sempre de pedir autorização ao S. Jorge para entrar no seu castelo e de agradecer à saída, nunca me esqueço de cumprimentar o Santantão quando por ele passo, e nem de, se o prédio estiver às escuras, subir as escadas a cantar.
Tal como me ensinaste não minto nem omito, confio e estimo e cuido de quem não se pode cuidar.
Também me lembro que sempre me dizias que não era preciso chorar.. mas isso paizinho, isso agora não sou capaz…  

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