sexta-feira, 1 de junho de 2012

Para a Jú


Naquele tempo podíamos brincar na rua; e nas escadas do prédio que nunca tinha portas fechadas.
O tempo dividia-se em tempo de escola e tempo de férias.
E todo o tempo do mundo nos empurrava uma para a outra.
Brincávamos, brigávamos (pouco), aprendíamos, riamos, chorávamos e crescíamos.
Eu e a Ju.
Eu morava no terceiro andar ela no segundo; todo o dia escada abaixo, escada acima num corropio.
Tu não pudeste ser tão criança quanto eu; tinhas já muitos afazeres, muitas responsabilidades, muitas tarefas, muita coisa te era exigida; demasiadas.
Tantas que um dia, ainda não tendo crescido tudo, optaste por ir embora.
Foste para longe e eu que era mais pequena (tão mais pequena) que tu, passei a ver-te de longe em longe.
Criaste uma família, inventaste uma vida, fizeste tudo de novo e durante algum tempo parece que correu bem.
Perdemo-nos uma da outra, eu era miúda e tu já não.
Encontrámo-nos um dia para nos despedirmos do teu "papá"; tagarelámos como se nos tivessemos apenas despedido na véspera (dizem que as boas amigas se reconhecem por isso), rimos muuuito ("a ocasião não é para rir", disseram os outros, os que não sabiam do passado) e trocámos contactos e promessas de estreitar a distância (geográfica).
Acreditámos porque voltávamos as duas a ter a mesma idade, agora eu também com responsabilidades; mas não teve que ser assim.
Disseram-me há uns anos que não estavas bem, que o mundo foi mau para ti outra vez, que ninguém sabe de ti...e eu procuro-te e procuro-te; chegam pistas, levam a becos sem saída; não estavas ali ou já não estás ali.
Ontem mesmo isso aconteceu.
E eu continuo a procurar-te.
Procuro a minha amiga de infância, para a ajudar a ser criança outra vez.
M.J.V.R.F.

8 comentários:

  1. Um dia vais encontrar a tua amiga Ju, assim como eu um dia vou encontrar as manas sandrinha e fatinha... o mundo é redondo, e um dia as vossas estradas vao-se cruzar... beijinhos e bom fim de semana.

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  2. O texto é lindo a história é triste. Também eu tenho uma Jú, mas felizmente nunca a perdi de vista, por mais longe que estejamos uma da outra, sei onde a encontrar, desejo o mesmo para ti, boa sorte ;)

    Beijinhos

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  3. É tão estranho... pessoas que partilham uma infância e depois têm destinos tão radicalmente diferentes... também perdi uma dessas amigas para um mundo muito mau :(((

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    1. Mesmo na infância alguns odem ser mais crianças do que outros,,,e isso condiciona...

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  4. Espero que ela nao seja como eu e tenha FaceBook, e de certeza que se vao encontrar

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